PORTUGUÊS

FILMAR A PAISAGEM?
Residência Internacional de Pesquisa Cinematográfica
28 de Novembro a 11 de Dezembro de 2011
Sete Cidades, São Miguel (Açores, Portugal)


Apresentação
“Filmar a paisagem?” será a interrogação de origem e o detonador de processos de criação baseados na linguagem cinematográfica que propomos explorar nesta residência.
Filmar a paisagem é sempre filmar-se a si próprio, filmar-se através da paisagem, procurando no mundo ecos do que somos. Filmar a paisagem será sempre a afirmação de um ponto de vista a partir do qual se organiza a visão do mundo e nela a relação de quem vê com o mundo que vê e em que participa. Filmar a paisagem é aqui entendido como gesto primeiro, na medida em que representa a nossa relação com o que nos rodeia, a nossa forma de estar no mundo. Neste impulso, aparecem questões essenciais ao olhar cinematográfico: encontrar ou ser encontrado pelo lugar a partir do qual se vê e se filma, estabelecer a distância justa com o que se filma, decidir ou sentir o desejo de mover-se, transitar, deslocar-se no espaço ou, pelo contrário, construir as suas dimensões a partir de um ponto fixo, estabelecer as relações, frágeis e frequentemente em alteração, entre o fundo e a figura que se recorta sobre ele...
Todas estas são questões essenciais que atravessam a estética documental. Questões que estão nos seus fundamentos, que em obras acabadas podem mesmo passar desapercebidas, mas todas elas primordiais para poder transmitir aquilo que verdadeiramente se quer dizer com a obra, a sua verdade mais profunda.
Na residência que propomos, a paisagem está no centro, precisamente para nos permitir fixar, aprofundar, rebuscar e encontrar nestas questões as bases, os caminhos e inclusivamente as brechas dos nossos próprios olhares. Em S. Miguel este processo é especialmente intenso. Aqui, a relação com a paisagem é forte e é elemento central da experiência quotidiana, aquele em relação ao qual o resto se nomeia e se organiza, aquele capaz de alterar os dias e arrastar os pensamentos. Canalizar esta força para o processo criativo e experimentar criar a partir dela é a nossa proposta.

Objectivos
Na origem deste projecto está um desafio, o de juntar cineastas de diferentes origens em S. Miguel e propor-lhes trabalharem a partir desta questão inicial: Filmar a paisagem? A ideia é constituir um grupo de trabalho que viva durante 2 semanas imerso na paisagem a partir da qual vai trabalhar. Não nos interessa chegar a objetos acabados senão produzir uma série de notas fílmicas, ou apontamentos, tomando como referência esses cadernos em que anotamos pensamentos, ideias súbitas, transcrevemos citações, organizamos listas, desenhamos, etc... cadernos em que nos esforçamos por captar e guardar a memória do nosso encontro com o mundo. Acreditando que este processo pode estar na génese do processo criativo propomos nesta residência que cada cineasta desenvolva uma forma própria de relação com a paisagem em que está inserido e vá testando, ou experimentando, uma forma de representar essa relação através de imagens e sons. Mais do que isto pede-se a cada um que abra o seu processo criativo à participação dos outros, que exponha as entranhas do seu trabalho, da sua forma de criar, tornando essa abertura um dado de trabalho, partilhando a dúvida, a intuição, o vazio, a descoberta, a crise, enfim tudo o que compõe a criação e que normalmente se vive de forma solitária e silenciosa.
Assim, cada participante irá desenvolver uma hipótese de trabalho a partir da sua relação com a paisagem em que estará a viver, apoiando-se no grupo de trabalho, tanto para a pôr em prática como para a explorar e interpretar.

O grupo de trabalho
O grupo de trabalho será constituído por 6 participantes e uma equipa de coordenação da residência. Este grupo de pessoas irá viver em conjunto numa casa inserida na paisagem a partir da qual se vai trabalhar - Sete Cidades, S. Miguel, Açores, Portugal.

Calendário
28 de Novembro a 11 de Dezembro de 2011
A residência terá a duração de 2 semanas em regime intensivo - pretende-se um mergulho colectivo a grande profundidade!

Dinâmica
A dinâmica da residência será fixada em função dos participantes e dos seus projectos. Haverá momentos de visionamento e discussão de filmes e outros referentes; exposição e discussão dos projectos de cada um em grupo e individualmente com os coordenadores da residência; haverá momentos de rodagem e de visionamento do material filmado bem como discussão e trabalho a partir dessas experiências de rodagem. A filmagem/montagem seguirá em paralelo com a escrita e organização de ideias desde o início da residência até ao final. Todo o trabalho será vivido intensamente, sem pausas, durante as 2 semanas.

Requisitos
Esta residência dirige-se a criadores já com algum trabalho realizado no âmbito da criação audiovisual, essencialmente em cinema documental mas não exclusivamente, e que se interessem em trabalhar a partir da sua relação pessoal com o real e com a paisagem em particular.
Cada participante deverá ter autonomia a nível de equipamento e dominar os seus instrumentos de trabalho, desde a captação de imagens e sons à montagem. Não será necessário equipamento muito específico ou evoluído mas sim equipamento que cada um domine e com que se sinta à vontade.

Despesas
A participação na residência será gratuita. A organização assegurará a estadia e alimentação (as refeições serão confeccionadas por todos na cozinha da residência). A organização tentará ainda reunir um fundo para cobrir parte das despesas de cada participante com a viagem até S. Miguel, num valor a definir consoante a proveniência de cada um.


Equipa de Coordenação da Residência
Directores: Marta Andreu e Tiago Hespanha
Apoio à direcção: Frederico Lobo
Produtor: Tiago Melo Bento
Produção: Corredor Associação Cultural